Olá amigo como estás?
Faz hoje três anos que não te
vejo, não sei se estás bem se estás mal, espero resposta à tua maneira, mas
quero que saibas que sinto a tua falta.
Foste a minha "muleta" durante
anos, eras aquele que tinha sempre uma palavra sábia para me dizer nas horas difíceis,
e amigos desses são difíceis de esquecer.
Nestes três longos anos, não me
tens saído do pensamento, às vezes sinto como se não tivesses partido, como se
ainda te fosse encontrar naquele teu carro laranja ou na tua acelera ao virar da esquina mais próxima.
Lembro-me amiúde das nossas
partidas de futebol na escola primária, as equipas eram sempre tu e o Delgado e
a outra eu mais o Cucas e outro que aparecesse para jogar, a vossa baliza era “pequena”
pois não tinham guarda-redes, o da minha equipa era o Cucas, o melhor que havia
na altura lá na terra, mas de pouco servia pois vocês com vossas jogadas de
entendimento de olhos fechados não davam hipótese.
As barragens que fazíamos no
chabarco, as barracas de giesta, as voltas de bicicleta, a minha primeira mini
naquele baile na Sociedade, os saudosos S. Marcos onde comprávamos bolas novas
para jogar, os carrinhos de choque, as idas ao tortulhos, às castanhas, às
cerejas, a moda do cabelo com gel, a da t-shirt com capuz, tantas e tantas
recordações.
O teu João está crescido, mas tu
sabes de certeza, deves ensina-lo na sossega da noite pois é uma cópia a papel químico
daquele carroça que conheci nas escadas da avó do Delgado numa tarde de verão.
Eu vou andando, uns dias mal e
outros assim assim, sabes aquela Princesa que conheceste como minha namorada? Já
não namoramos, não sei que se passou, mas já não dá, agora precisava de te
ouvir…
“vai em frente, se te faz feliz,
vai em frente não olhes para trás” era o que me dizias quando te falei nela na
primeira vez, não sei se me dirias a mesma coisa depois de me veres sofrer como
tenho sofrido.
Sabes, agora renasci, e já me
afundei outra vez, voltei a engordar, lembras-te daquele eu que não se queria
mexer? Esse já não existe, agora faço caminhadas e ando de bicicleta, vá segura
o queixo e não faças essa careta de gozo, tenho de te confessar que já me
agradou mais, e que é mais uma luta interior do que outra coisa, é esforçar
para descansar, quero dormir bem à noite e não consigo.
Tenho saído com o Mamede, tá fino e continua igual, mas já acabou o curso, ainda me vem à memória aquela passagem de ano memorável que passámos os três lá na Cave.
Vens sempre à conversa, não conseguimos tirar da cabeça tempos memoráveis, e começa sempre da mesma forma "lembras-te daquela vez que o Carroça...".
Ainda trabalho no mesmo sítio,
mas mudei-me para Portalegre, precisava de independência e depois da tua
partida poucos amigos ficaram aí para alinhar no dia-a-dia.
Gostava de escrever algo diferente com as palavras certas cheias de sentido e a entoação certa, mas isso nunca tive habilidade.
Neste momento estou fechado no meu quarto, sozinho e as lágrimas correm cara a baixo mas com um sorriso nos lábios, porque apesar da tristeza de não te ver mais, maior é a alegria de te ter conhecido e dos bons momentos que passámos juntos.
Mas sabes amigo, tenho sentido
muito a tua falta, nas noites de farra, nos petiscos que fazias, da tua alegria
e inspiração, da tua forma de ser brusca e impetuosa, mas verdadeira e pura,
daí seres um aglutinador de gente, do mais velho ao mais novo, do mais rico ao
mais pobre, do melhor ao pior, conhecias todos e todos te conheciam a ti.
Agradeço cada minuto que passamos
juntos, orgulho-me de ser teu amigo, e fico feliz porque por nossas vidas se
terem cruzado.
Fico à espera da resposta, se
logo à noite vir uma estrela cadente sei que és tu e que ouviste minhas
palavras, se achas que uma estrela cadente é demais, faz acontecer uma loucura
daquelas que nos partíamos todos a rir, uma sessão de porrada, alguém a cair à
nossa frente, alguém apagar-se, enfim tu sabes o que fazer.